Ao meu Querido Pai
Com saudades
Quando tu partiste, depois de tanto sofrer
Ficou em mim a saudade e uma grande dor
Eu estava longe e não te pude vir ver
Mas por ti perdurará sempre um grande amor
Tu eras simples e bondoso
Tudo o que eu queria ser
Eras amigo e carinhoso
Mas tu partiste e a mim só me restou sofrer
(Recordando)
QUANDO TU CHEGAVAS .....
era um alívio e uma alegria indescritível.
Em homenagem ao meu saudoso e querido Pai
Memórias que o tempo não apaga
Hoje tudo é diferente.
Esta convivência gerava amor e dava valor
quem amávamos.
Será que ainda hoje é assim?
(Quando a idade não contava ......................)
Tinha eu seis anos incompletos e a minha irmã oito.
A minha saudosa mãe, devido a doença adquirida aquando do meu nascimento, passava uma semana em casa, para fazer as lides domésticas e duas no hospital da Idanha, internada, para tentar uma cura que tardava. Isto passou-se durante anos.
O Meu amigo e falecido pai trabalhava na altura na estrada que liga Proença e Medelim e, embora no Verão os dias sejam muito maiores que as noites, ele na verdade chegava sempre de noite.
Porquê?
Porque se aproveitavam as horas para fazer "extraordinárias" e assim obter mais algum dinheiro ao fim da semana.
A minha irmã, menina como era passava a maior parte do tempo em casa da minha madrinha Cacilda, que na altura morava na Rua do Castelo e dela cuidavam como se de uma filha se tratasse.
Nesse ano de mil novecentos e quarenta e sete, o meu pai além de ter uma horta numa zona denominada "os pinheiros do Inácio Rocha", tinha também, de "meias "uma bastante maior que a nossa, pertencente à" Tia Isabel dos Anjos ", senhora viuva de que éramos muito amigos e que morava junto à "Praça" numa casa que ainda hoje lá está com o mesmo aspecto que tinha na altura.
Embora na nossa também houvesse alguns frutos,a verdade é que nesta, por ser maior e muito mais antiga, tinha na realidade muitos e diversos frutos. Lembro-me de maçãs, "malapos" ameixas, abrunhos, peras, diversos tipos de figos e uvas de diversas castas.
Recordo em especial as uvas moscatel. Uma delícia que eram.
Quem tinha o encargo de a guardar (?) durante todo o dia e regar, eu era.
De vez em quando recebia a visita da minha irmã a qual, além de me dar companhia e ajuda nas lides da horta, era também a minha parceira de brincadeiras.
Uma das coisas que normalmente fazíamos era apanhar amoras das silvas e, calculem fazer vinho tinto.
Claro que depois de tanto trabalho e de tantas picadelas das silvas, acabávamos por deitar aquela "mistela" fora, pois que de vinho tinto só tinha a cor.
Quando chegava a tardinha tinha de regar a horta, para o que tirava água de um poço com um engenho a que se chamava "burra".
Esta "burra" era composta por forcalha, cambão e varal, no qual era pendurado um balde com que se retirava a água do poço que depois deitava no regador para então fazer a rega.
Entretanto como a noite ia chegando e eu, como tinha medo das cobras, (que diabo, nem tinha seis anos!) trepava uma pequena sobreira que havia em frente da entrada e da referida horta e, não fosse adormecer, amarrava-me com uma corda a uma pernada da sobreira e ali aguardava a desejosa chegada do meu pai.
É evidente que eu não conseguia fazer tudo bem, e era o meu pai que, quando chegava da estrada onde trabalhava, fazia a parte mais pesada dos trabalhos da rega e não só.
Em seguida ele mesmo tratava de preparar a ceia (agora é jantar) e, após esta, íamos os dois, dar uma volta pela horta, ao mesmo tempo que ele ia cortando alguns cachos de uva para ambos comermos.
Tínhamos também uma "passadeira", onde se colocavam os figos para secarem e, sob a mesma, o meu pai fazia uma cama onde os dois dormíamos. Em regra eu adormecia ouvindo histórias que ele me contava.
E era assim e ali que se passavam parte dos meses de verão. Eram as férias(?).
Tempos difíceis, mas o amor que unia as famílias, era na verdade um exemplo que eu não esqueço e que para sempre guardarei no meu ciração.
(Quanta saudade meu Deus!).
FAfonso