foto retirada do blog-http://prohensa.blogspot.com/
O PÃO DE CADA DIA...SENHOR
E
Os Fornos de cozer pão
Há dias, numa feliz iniciativa da Junta de Freguesia de Proença-a-Velha, (minha terra Natal) e através do blog “”, dirigido a todos os proencenses e da responsabilidade do conterrâneo João Adolfo Ramos Geraldes, tomei conhecimento da reabertura de um forno de cozer pão, pertença do Dr. Isidoro Pinto Correia que terá suportado na íntegra, as obras de restauro do mesmo.
Escrevo estas breves linhas, porque, ao ler o anúncio da obra atrás referida, vieram-me à memória imagens de há muitos anos, quando eu era jovem e em Proença haviam a laborar diariamente, se a memória não me falha, três ou quatro fornos.
Que verdadeiramente me recorde, havia um na rua do Castelo, pertença de Inácio Rocha, outro numa travessa que liga a Rua Heróis do Ultramar ao ex-Largo do Corro, propriedade do Marquês da Graciosa e um terceiro situado nas traseiras da Igreja da Misericórdia, o qual, não tenho a certeza, mas seria então da família Pinto Correia.
Era uma verdadeira azáfama e um trabalho extenuante para aquelas pessoas que, em especial no Verão, tinham de suportar o calor vindo do interior da “fornalha”.
Verdade se diga que este calor excessivo era compensado pelo “quentinho” que no Inverno se recebia da mesma “fornalha” e que chegava a atraír vizinhas do forno para ali “tagarelarem” e se aquecerem, mas, que era uma tarefa árdua, isso ninguém podia por em questão.
Havia até uma regra que eu, embora jovem, sempre me fez bastante confusão e que era o facto da forneira ter de ir a casa dos “fregueses” buscar o tabuleiro com os pães devidamente aconchegados ente um lençol e um cobertor, para que chegasse ao forno nas devidas condições.
Normalmente, mas nem sempre, os trabalhadores da casa do proprietário do forno eram também os fregueses do forno.
Mas, antes do foro estar quente e pronto a receber os pães, havia um trabalho que à maioria das pessoas poderia passar despercebido, mas que na realidade era bastante espinhoso. Tratava-se de arranjar lenha para a manutenção do forno, pois sem esta, nada feito.
Embora ainda bastante novo, lembro-me perfeitamente do meu primo António Balhó, pois era ele e o pai, o meu tio Zé Pouzinho que tratavam da aquisição da lenha, em regra numa propriedade do Marquês designada de Urgeira.
Tenho bem presente na memória o ciclo que a minha querida e falecida mãe tinha que seguir até o pão chegar à nossa mesa:
Primeiro tiravam-se os cereais, trigo ou centeio, das arcas que tínhamos em casa e metia-se na “taleiga”; - depois vinha o moleiro que a levava para o moinho a fim de moer os cereais, reduzindo-os a farinha e que passados dias entregava a “taleiga” com o resultado da moagem; - De seguida a minha mãe peneirava a farinha; - depois arranjava o fermento e começava o preparo da farinha; - era “amassada” a farinha até se transformar numa massa homogénea; - depois de “fintada” a massa era a mesma repartida em pães que eram aconchegados no tabuleiro e aguardavam a chegada da forneira para que esta os levasse para o forno.
Depois de cozido o pão, era o mesmo entregue à minha mãe, retirando a forneira um que representava o pagamento pelo seu trabalho.
De seguida a minha mãe trazia o tabuleiro com o pão e claro com umas “bicas” e uns “caracóis” que em casa comíamos muitas vezes depois de mergulhados no azeite, como guloseima.
OUTROS TEMPOS, OUTRAS GENTES, OUTROS USOS.
Mas a Saudade ficou
Da Terra e das gentes
Em especial dos que “Partiram”
E que tanto labutaram para poderem dar aos seus vindouros algo que eles não tiveram.
Que descansem em paz
FAfonso