AMIZADES QUE SE NÃO ESQUECEM
RECORDAÇÃO DE UM PROENCENSE
(Este é um pequeno resumo
da história de vida e desengano
de um grande amigo do peito que comigo travou inúmeras Operações Militares na Guerra de Angola)
UMA VIDA
UMA HISTÓRIA
HISTÓRIA QUE O VENTO NÃO LEVOU
E O TEMPO NÃO APAGOU
Ninguém parte sem deixar algo para traz.
Ele não fugiu à regra. Normalmente são os familiares aqueles de quem nos custa mais a separação.
Depois..., bem depois há sempre alguém que nos agarra com mais intensidade e nos deixa uma imensa saudade, mesmo antes de partirmos, transportando muitas vezes desgostos que nos acompanham o resto da vida.
Com ele sucedeu exatamente isso. Só que nada podia fazer, a não ser ir para o mais longe possível, pensando que com tal atitude iria resolver o desgosto que lhe ia na alma.
Nem sequer se deteve a pensar no que seria a sua vida longe de todos os que lhe eram queridos e em especial de alguém que o tinha desprezado.
Não se lembrou sequer da tenra idade que tinha. Só pensava em se afastar, julgando que a distância iria apagar da sua memória e do seu coração aquela angústia que o atormentava.
Torturava-o a ideia de ter sido trocado, abandonado e desprezado por quem poucos meses antes por ele tinha vertido uma lágrima que ele julgava ser uma lágrima de amor.
A final, segundo veio mais tarde a saber, não teria havido lágrima nenhuma, mas sim pura imaginação sua. (Mas ele ainda hoje jura que as lágrimas existiram e não foram invenção sua).
Só que quem as tinha vertido não as sentia no seu intimo e por isso não revelavam nem amor nem saudade.
Ele seguiu para terras longínquas, mas ao contrário do que pensava, as saudades e o desgosto em vez de se atenuarem, cada vez mais se foram acentuando no fundo do seu ser.
Não passava de um jovem com dezoito anos a viver sem um ombro onde se pudesse apoiar, enfrentando mil e uma dificuldades que só a muito custo ia torneando e ultrapassando.
O seu único apoio eram as cartas dos seus familiares que sempre se tinham oposto à sua partida.
Ainda tentou regressar a Portugal, mas como entretanto rebentou a guerra em Angola, esta intenção foi-lhe negada e acabou sendo incorporado nos Batalhões Militares daquele território.
Entretanto chega-lhe a notícia de que ela se tinha casado e isso não só lhe acentuou o desgosto, como lhe provocou uma verdadeira raiva contra ele próprio.
Pouco tempo após esta notícia, foi colocado na Zona Operacional Norte, que era na altura a zona mais perigosa da Região Militar de Angola.
Cerca de quatro anos depois foi desmobilizado, mas continuou em Angola e acabou por constituir família.
Anos depois regressou a Portugal, trazendo consigo não só a esposa como também dois filhos que entretanto haviam nascido.
Mesmo sabendo que nada ia resolver, pois o tempo não recua, não deixou no entanto de indagar, disfarçadamente, qual seria o paradeiro daquela que há muito o havia trocado por alguém que certamente a merecia mais que ele.
Só que não foi fácil, pois tinha que atuar sem provocar alarme na família que entretanto tinha constituído.
Para tal recorreu a amigos e familiares e foi desta forma que a conseguiu contactar.
Claro que além de matar saudades nada mais pode resultar dos breves e fugazes encontros que tiveram e assim cada um teve de continuar o caminho dos respetivos destinos.
Escrevo estas breves linhas em homenagem a esse meu velho amigo que comigo comungou as suas alegrias e tristezas durante estes mais de cinquenta anos.
Eu, apenas poderei louvar os sentimentos nobres pelos quais sempre se regeu este meu velho amigo
FAfonso