PROENÇA-A-VELHA
Evolução Histórica e Administrativa Até 1218 pertenceu a Idanha-a-Velha, a antiga Egitânia. 1218 - Em Abril de 1218 recebe foral de D. Pedro Alvites, mestre da Ordem do Templo, em carta concedida com beneplácito de D. Afonso II e D. Urraca.
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Dez 10

 

 

 

Ele anda por aí.........

O Menino

 

ERA UMA VEZ...........

UM CONTO DE NATAL

 

Quando amanheceu, a criança chorava em silêncio e tremia com o frio que o vento gelado multiplicava vezes sem conta, visto vir dos lados da serra, que naquela época do ano estava coberta de neve.

A mãe, que embora fosse nova na idade parecia muito mais velha, arrastava-se agarrada a um pequeno cajado, tentava dar ânimo ao miúdo, seu filho, dizendo-lhe:

  • Não chores meu amor, que o pai deve estar a chegar do trabalho e talvez te traga alguma “coisa boa” para ti.

  • Chega-te aqui à lareira que já está acesa!

  • Lembra-te que ontem te disse que já só faltavam 2 dias para o Natal e o menino Jesus pode dar-te alguma prendinha!

Ao ouvir estas palavras o miúdo calou o choro, esqueceu o frio e, agarrado à pobre mãe, beijou-lhe as mãos e, com voz doce e meiga disse:

  • -Tu és a melhor mãe do mundo – e eu vou pedir ao Menino Jesus que te cure essa ferida que tanto te faz sofrer.

A mãe, mais uma vez acariciou o seu menino e, fechando os olhos agradeceu a Deus por lhe ter dado forças para, embora com imensas dificuldades, ir criando este pequeno ser que era para ela e para o António, seu marido, o maior tesouro do mundo.

Contudo, uma tristeza enorme apoderava-se do seu coração quando pensava que no dia seguinte era dia de Natal e que ela não tinha nada para oferecer ao seu menino.

Nessa noite, noite da Missa do Galo e à qual embora com dificuldade não queria faltar, era também a noite em que a quase totalidade dos habitantes da Aldeia fazia as habituais filhoses e ela mais uma vez não tinha possibilidades económicas para poder presentear o seu filho com aquela gulodice que, naquela noite todas as crianças e mesmo adultos gostavam de saborear em volta da lareira, enquanto as mesmas eram fritas.

Aquela maldita ferida da perna originada na queda da oliveira quando a escada se partiu durante a colha da azeitona, tinha se infectado ao ponto de ameaçar com gangrena a perna afectada e desta forma estava inibida de poder ganhar algum dinheiro, trabalhando no campo, como sempre tinha feito.

O seu menino, o Luizinho, não tinha consciência da extensão do problema que tanto a preocupava e, na inocência da sua tenra idade, todas as noites ia pedindo ao Menino Jesus que, para na Noite de Natal, lhe desse um carrinho para ele e a cura para a sua mamã, como ele carinhosamente a tratava sempre que a ela se lhe dirigia.

Com o aproximar da noite, o céu começou a ficar escuro e as nuvens carregadas indiciavam que grande trovoada e consequente chuvada estariam para chegar a qualquer momento.

A mãe do menino, a Filomena, começava a estar preocupada com a demora do António, seu marido, a chegar a casa.

É que ele tinha de passar as velhas poldras para travessar o rio e este, devido à invernia antecipada que se tinha abatido sobre a aldeia, já ia com um caudal bastante ameaçador para quem tentava passar de um lado para o outro.

Por isso e não só, pedia a Deus que o protegesse no regresso a casa e que nada de mal lhe acontecesse.

Claro que, sempre que se dirigia a Deus, não se esquecia de mencionar o seu menino e, entre outros pedidos, uma ajuda nem que pequena fosse, para o achaque da sua perna.

Mas o tempo ia passando e o António tardava em chegar

O Luizinho que até ali se tinha mantido entretido brincando com a andorinha, a gatinha que tinham em casa e que havia recebido o nome devido ao facto de ser toda pretinha e ter uma estrela branca na cabeça, de repente, como que impulsionada por uma forte mola, deu um salto do local onde estava sentado, correndo para a mãe, ao mesmo tempo que perguntava pelo pai, lembrando-se que normalmente o mesmo não costumava demorar-se tanto.

Ainda a preocupação do menino se não tinha dissipado e eis que o pai chega a casa.

Mas não vinha só.

Acompanhava-o um velhinho que tinha encontrado todo molhado na margem da ribeira, que, tal como ele, também atravessou as poldras mas havia caído ao passar a última pedra e por tal facto, além de se ter molhado completamente, ainda tinha algumas escoriações nas pernas e nos braços.

Lamentou-se à mulher e ao filho pela preocupação que lhes havia causado, mas lembrou-lhes que de forma alguma podia deixar abandonado aquele inesperado companheiro e, por isso, ajudou-o a caminhar e convidou-o a passar com eles a Noite de Natal e, caso ele pudesse, teria muito gosto em que os acompanhasse na celebração da Missa do Galo.

A esposa mal deixou o marido terminar a explicação e, abraçando-o, apenas disse: -

  • Fizeste o que o teu coração te disse e nós estamos todos contentes por teres tomado a atitude que tomaste. Apenas podemos dizer: - Deus seja louvado para sempre!!

De seguida e com uma pequena vénia de subserviência, deu as boas vindas ao visitante, ao mesmo tempo que se ia desculpando pela humildade que reinava na sua pobre casa, e o convidava a sentar-se junto à lareira no velho banco de madeira que já havia servido os seus pais e avós.

Dito isto, dirigiu-se para o quarto, acompanhada do marido, procurando roupas enxutas para que o idoso convidado pudesse vesti-las e assim ficar mais confortável e aconchegado,

O velhinho, enquanto ouvia a explicação que o inesperado amigo dava à esposa e ao filho, assim como as justificações da sua esposa para a pobreza em que viviam, manteve-se calado, com os olhos cravados no chão daquela pobre casa, ao mesmo tempo que, com alegria incontida, ia germinando em si a ideia melhor para dar um pouco de alegria àquela pobre mas boa família.

É que ali, naquela humilde família reinava algo que lamentavelmente começava a ser raridade naquele mundo em que viviam.

O menino estava estupefacto com tudo o que se estava passando em seu redor e com alguma tristeza verificava que o centro das atenções naquela noite, não era ele mas sim um velhinho que ele não conhecia mas, lá no seu íntimo, algo lhe dizia que não devia ser um verdadeiro estranho e que, o que mais lhe causava impressão era aquele ar de bondade que dele irradiava.

Como criança irrequieta que era, como aliás a maioria das crianças na sua idade são, aproximou-se do inesperado visitante e desatou em fazer perguntas:

  • Como te chamas?; Quem és tu velhinho?; O que fazes?; Onde vives?;Como te molhaste?

O velhote, ainda encharcado, olhou a criança com carinho e foi respondendo

  • Eu já fui menino como tu és agora. Também os meus pais não tinham muitos haveres e pouco tinham para me oferecer a não ser muito amor e compreensão. Depois, à medida que ia crescendo fui-me apercebendo que, tal como eu, havia muitos meninos que nada tinham a não ser o carinho e o amor dos seus pais.

  • Mas tu “Meu Filho” tens uma enorme riqueza entre as paredes da tua modesta casa, que muitos meninos que vivem em abundância não têm. Tu tens o carinho e o amor dos teus pais que é a maior das riquezas.

  • Por isso deves imitá-los, apoiá-los e acarinhá-los sempre e em especial quando forem velhinhos.

  • Lembra-te sempre deste meu conselho!

  • Lembra-te sempre de mim!

  • A maior riqueza que nos podem dar está nos nossos corações.

  • A minha casa é o mundo e não tenho lugar certo; sou um viajante solitário e passo os dias deambulando de um lado para o outro.

  • O meu trabalho é invisível e raramente alguém se apercebe dele. Só pessoas de bom coração e de espírito aberto conseguem compreender o que faço e louvar as minhas acções.

  • Eu não me molhei ao atravessar o rio porque eu passo sobre as águas e não me afundo.

  • Eu fingi que tinha caído ao rio e molhei-me porque queria conhecer-te a ti e aos teus pais.

  • Por isso esperei que o teu pai chegasse e me convidasse a segui-lo

  • Mas tu, nada disto que eu te acabo de contar vais dizer nem ao teu pai, nem à tua mãe, nem a ninguém.

  • Porque EU SOU AQUELE QUE SOU e tu e a tua família vão lembrar-se sempre de mim.

  • Vão lembrar-se sempre do velhinho que o teu pai acarinhou e levou para casa, onde foi vestido e aquecido, não com as roupas enxutas e com o calor da lareira, mas sim com o calor das vossas almas e dos vossos corações.

A criança ouviu a narrativa do velhinho e, prometeu que nada diria a ninguém. Apenas retorquiu, balbuciando.

  • Mas tu velhinho, que passaste sobre as águas do rio sem te afundares, não podes ajudar a minha mamã que sofre tanto com o mal que tem na perna?

  • Faz lá, como se diz, um milagre!

  • Ajuda a minha querida mamã para que desta forma ela possa às vezes brincar comigo!

O Velhinho acariciou os cabelos da criancinha e prometeu que iria fazer tudo o que pudesse para ajudar a sua mãe, logo que possível; mas que não devia desesperar, pois ele tinha muitos pedidos de ajuda.

Mas que descansasse, pois ele não se esqueceria.

Entretanto os pais do menino chegaram do quarto, depois do pai ter mudado de roupa e pediram ao velhinho para entrar no quarto e vestir as roupas enxutas que estavam sobre a cama. Acrescentaram que pediam desculpa por a mesma já ser muito usada mas, como eram pobres tinham que usar as coisas até ao limite.

O visitante agradeceu e foi trocar a sua roupa molhada pela enxuta, ao mesmo tempo que lhes lembrava que também ele era pobre, não estar habituado a roupas novas e, como tal não lhes deviam pedir desculpa e acrescentou que estava muito agradecido pela forma hospitaleira como o estavam tratando.

De seguida e após terem comido do pouco que havia em casa combinaram entre eles que, como estava a chegar a meia-noite, se deviam ir aproximando da Igreja para assistirem e colaborarem na Missa que, por ser Noite de Natal, era conhecida por Missa do Galo e eles por nada a queriam perder.

Seguiram em silêncio e quando estavam já próximos da Igreja, o velhinho alegando que estava muito cansado, com sono e cheio de frio, pediu que o desculpassem mas que o deixassem voltar para casa para junto da lareira.

Todos concordaram e assim o velhinho voltou para casa.

Finda a Missa o menino e os seus pais regressaram a casa e eis que, mal abriram a porta, depararam com uma enorme cesta de filhoses, ainda quentes, com um lindo carrinho feito de madeira como o Luizinho tanto ambicionava, com um grande saco cheio de roupas novas e, sob este saco um papel onde se podia ler:

  • Alguém que eu não conheço deixou estas lembranças de Natal para vós!

  • Tu Filomena, deita fora o teu cajado, pois não necessitas dele.

  • Tive que sair mais cedo por isso peço a compreensão e agradeço a vossa hospitalidade.

  • Nada procuraste saber sobre mim e abriste-me a porta da vossa casa como se minha fosse.

  • Nem o meu nome sabíeis e deste-me muito do pouco que tendes

  • Mas eu vos digo:

     

  • EU SOU AQUELE QUE SOU.

     

Ao ouvir aquilo que o pai ia lendo, na cabeça da criança um turbilhão de pensamentos e recordações começavam a fazer sentido e, lembrando-se do que tinha ouvido no Sermão da Missa da Meia-noite, interiorizou que aquele velhinho, que também tinha sido menino pobre, era muito parecido com o Menino do Sermão.

Era muito parecido com o Menino Jesus.

Certamente Ele era o Menino Jesus feito Homem

 

E eles, em uníssono, levantando os olhos ao céu e em alta voz, louvaram a Deus por tudo o que lhes tinha dado.

Todos estavam cientes que o velhinho que haviam acolhido em sua casa era o Menino Jesus feito Velhinho.

 

 

FAfonso

10-12-10

     

publicado por AALADOSNAMORADOS às 12:18
sinto-me: bem
Olá, Afonso! Bem vindo de volta! Que história bonita! Bem ao jeito dos contos da nossa terra! Transporta-nos para uma realidade tão diferente da dos nossos dias, os presentes são o menos importante, o amor pelo próximo, pela familia, o bem querer aos outros, o nascimento do Menino Jesus... Isto sim é o Natal, esse sim é o verdadeiro espirito natalicio!

Que Deus esteja sempre contigo!!!

Bjocas e Feliz Natal!
soumaiseu a 11 de Dezembro de 2010 às 12:49
OLÁ sÃO

Obrigado pelo que me dizes no teu comentário.
Na verdade este meu pequeno conto podiia aplicar-se, noutros tempos e com outros personagens, a realidades que tanto na nossa como noutras aldeias se viveram.
Um abraço par vós, beijinhos para a tua Mais Que Tudo,
e
Feliz Natal

FAfonso
AALADOSNAMORADOS a 11 de Dezembro de 2010 às 16:17
OLÁ MEU AMIGO,ADOREI O SEU CONTO DE NATAL,DESEJO QUE TODA A CANDURA
DESTE CONTO PERDURE EM NOSSOS CORAÇÕES PARA SEMPRE !
UM ABRAÇO .MANÉ
Mané a 4 de Janeiro de 2011 às 15:28
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