Sempre que o telefone tocava, ele aguardava que fosse ela a dizer-lhe que o perdoava pelo desgosto que lhe tinha dado.
N a verdade, e embora ansiasse pelo perdão, no seu íntimo reconhecia que o que tinha feito não merecia que ela o desculpasse.
No entanto também pensava que, se o amor que os uniu durante aqueles quase dois anos era verdadeiro, então o perdão podia vir a suceder.
Era pois pensando nesse amor, que ele, com fé e esperança, aguardava que ela acreditasse que em tudo o que tinha acontecido, ele não era culpado.
Tudo aconteceu naquela inesquecível tarde de domingo, enquanto aguardava pela namorada na esplanada do café do jardim próximo e encomendou uma imperial à empregada que ali prestava serviço.
Só que......
(Esta, obedecendo à gentileza de uma menina, cliente habitual e pensando ser um coisa sem qualquer importância, em lugar de levar a imperial que ele tinha encomendado,levou-lhe, a solicitação desta, aquela que tinha acabado de lhe trazer e, para ela pediu-lhe-que lhe trouxesse um sumo de laranja , dizendo-lhe que não se sentia muito bem, ao mesmo tempo que lhe pedia para não dizer nada ao cliente da imperial, pois era uma surpresa, visto serem amigos de longa data).
Lembrava-se apenas de ter começado a beber a cerveja e imediatamente a sentir uma grande sonolência. Mais tarde veio a saber que a mulher desconhecida, dizendo que era amiga o havia levado de carro para destino desconhecido.
Acordou no dia seguinte deitado num quarto de um hotel da cidade, onde não lhe souberem dizer nada sobre a pessoa que o havia levado para lá.
Ficou completamente transtornado ao lembrar-se que tinha ido ao café do jardim para ali aguardar a chegada da pequena que tanto amava.
Assim, pegou no telemóvel e ligou para a sua amada, na esperança que ela lhe pudesse dizer algo do que lhe havia acontecido.
O telefone chamou vezes sem conta, mas do outro lado apenas o silêncio lhes respondeu.
Pensou então que alguma coisa poderia ter sucedido e pensando assim, chamou um táxi e deu-lhe a direção, pedindo rapidez ao motorista.
Subiu até ao terceiro andar, saltando os degraus de dois em dois até chegar ao patamar e ficou parado alguns momentos frente à porta da casa onde ela morava.
Tocou à campainha insistentemente e ao abrir-se a porta recebeu apenas como informação um “ninguém quer falar consigo” dado pela irmã da namorada.
No entanto, como ele tivesse insistido numa explicação, a irmã acabou por lhe dizer:
-Tu foste indecente para com a minha irmã, pois quando ela chegou à esplanada do café viu que tu estavas a entrar bem agarradinho a outra mulher para o interior de um automóvel.
A minha irmã não te quer ver mais, por isso esquece-a.
Ainda tentou explicar-se, dizendo que de nada se lembrava e que tinha acordado no quarto de um hotel da cidade para onde o tinham levado. Mas a rapariga não o quis ouvir e insistiu para que ele se fosse embora e não mais voltasse, ao mesmo tempo que lhe fechou a porta.
Com o coração partido e amargurado, desceu a escadas e veio para a rua.
Deambulou sem destino toda a tarde e noite. Pela manhã verificou que estava sentado num banco do jardim onde tudo tinha começado.
Continuou tentando explicar-se pelo telefone, mas do outro lado ninguém respondia.
Desanimado, parou de tentar ao mesmo tempo que tentava perceber o que se havia passado.
Ela, a namorada,estava em casa e o telefone tocava constantemente.
Não o atendia pensando que seria ele. E ela não o queria sequer ouvir, quanto mais falar-lhe.
Quando a irmã dela chegou do emprego, à tarde e perante as inúmeras vezes que o telefone tocava encheu-se de coragem e levantou o auscultador para lhe dizer que não o queria ouvir mais.
No entanto do outro lado e sem que ela tivesse tempo de dizer absolutamente nada, uma voz de mulher foi relatando tudo o que se havia passado, naquela tarde de domingo dizendo-lhe a terminar que esta tinha a sido a forma de se vingar, pelo vexame porque havia passado quando ele a trocou por ela naquela passagem de ano dois anos antes, mas que entre eles nada se tinha passado, pois ela deixou-o no hotel e de imediato saiu.
Então, cheia de remorsos e enchendo-se de coragem, ligou para ele pedindo-lhe desculpa por ter duvidado do amor que ele sempre tinha afirmado que por ela sentia.
E..... falaram.....,e compreenderam-se mutuamente, concluindo que na verdade o amor que os unia era verdadeiro e que o sucedido só tinha servido para os unir ainda mais.
FAfonso