II
OUTONO E INVERNO
Com o aproximar do Outono, as folhas das velhas árvores que ladeavam a rua, começaram a mudar de cor.
Era o prenúncio de que o tempo de vida das mesmas começava a caminhar para o seu fim.
A sua cor amarelada era a demonstração do início do fim da sua existência.
Visto de certa distância, e em especial quando os raios solares incidiam em determinado ângulo, até dava um certo encanto aquele “túnel” que as árvores formavam, ao mesmo tempo que as folhas coloridas de um amarelo/dourado iam formando um autêntico tapete.
As folhas iam caindo em maior ou menor quantidade consoante a violência das rajadas de vento que iam fustigando as velhas árvores.
Era um espetáculo ao mesmo tempo triste e deslumbrante.
As árvores cada vez mais iam ficando “depenadas” e a rua cada vez mais dourada pela quantidade de folhas que ao cairem iam cada vez mais tapeando a rua.
O verde que outrora dava um ar primaveril àquela artéria da cidade, estava agora a prenunciar que o o Outono estava no fim e que o inverno não tardava a chegar.
Até a passarada que havia povoado e nidificado naqueles gigantes da natureza tinham desaparecido.
Mas elas, as velhas árvores, que haviam resistido a tantos temporais e Invernos rigorosos, iam sofrer uma dolorosa e última surpresa.
O Homem, a quem elas tantos anos tinham, gratuitamente, fornecido refrescante sombra, aproximava-se com um exército de máquinaria com o objetivo de as arrancar ao chão que durante tantos anos as haviam alimentado.
De nada valeu aquela inscrição que alguém plantou no tronco do mais velho exemplar das árvores daquela rua.
As máquinas avançaram e o prazer que aquelas árvores me davam sempre que aquele ciclo da natureza se realizava, chegou ao fim.
Tardariam muitos anos até que novamente outras que ali plantassem pudessem servir de "casa e abrigo" às diversas aves que ali se refugiavam e mesmo nidificavam.
E eu, cujo ciclo de vida também as ia acompanhando, tive que me resignar e compreender que havia uma certa analogia entre as Estações do ano que regem a vida da Natureza, mas também a minha vida que é, ao fim e ao cabo a vida de todos nós.
Também eu que da minha varanda ia com tristeza assistindo ao desenlace final, lembrava que quando saí da minha terra deixei as minhas raízes jovens e fortes na terra que me viu nascer e agora da Primavera que deixei ao partir, apenas iam restando uns resquícios do Outono e o rápido aproximar do Inverno que inevitavelmente ia chegar.
Era o Ciclo que se ia completando.
Era o meu ciclo que caminhava par o fim, tal como estava acontecendo com aquelas velhas árvores, cujo fim tinha chegado.
FAfonso