HONRA E MÉRITO AOS QUE PARTIRAM
Vamos arrancar......difunda a ordem; passe-a-palavra.
Foram estas as palavras que o Capitão Moutinho me dirigiu para o prosseguimento da operação.
Iniciamos a marcha com os equipamentos e nós próprios todos encharcados, direitos ao objectivo, que era uma base terrorista situada na encosta do morro oposto àquele em que nos encontrávamos.
Éramos um alvo fácil, pois o inimigo cobarde, escondido sob a floresta virgem, abundante e quase impenetrável, só atacava à traição. Para podermos subir, tínhamos de fazer autênticos "S" para conseguirmos atingir o meio da encosta. Aquilo era um verdadeiro suicídio. Mas era o único caminho possível.
Pouco tempo pós o início da subida, talvez uma hora e meia, fomos flagelados por rajadas inimigas, vindas exactamente da zona onde, por indicações que tínhamos, se situava a base terrorista que devíamos atingir e destruir.
O barulho, como de costume, tornou-se ensurdecedor. As rajadas de tiros ecoaram ruidosamente por aquelas serras silenciosas e sombrias.
Como é normal em casos destes, todos os operacionais nos atiramos ao chão, cada um procurando a melhor protecção possível, ao mesmo tempo que reagíamos ao fogo inimigo, tornando o ambiente "dantesco", qual "inferno na terra".
Não durou muito tempo esta troca de tiros. Assim que as armas se calaram, imediatamente recomeçamos o avanço em direcção ao "objectivo".
Mas nem todos.....
Ao meu lado, distante dois a três metros, um companheiro não se levantou...
Todos nós pensávamos que ainda estaria a reagir à emboscada e que por isso demorava a levantar-se... Alguns companheiros, conforme iam passando, iam dando piadas do tipo: -"levanta-te pá, tudo passou meu medricas", e outras mais que aqui não descrevo por estarem fora do contexto do estado de alma com que estou escrevendo estas breves e sentidas linhas.
Foi mais um companheiro e um amigo que partiu para sempre do nosso convívio, vítima desta guerra traiçoeira.
De imediato o Capitão Moutinho mandou organizar uma Secção para que o corpo deste militar fosse enviado para a base e a Operação continuou conforme planeado.
Ao fim de Algum tempo acabamos por atingir o "objectivo" que, como era de esperar tinha sido abandonado e destruído pelos próprios terroristas.
Nós limitámo-nos a acabar o que eles tinham começado.
Esta "Operação", como muitas outras em que intervim, terminou sem grandes batalhas. A grande arma dos terroristas eram as traiçoeiras emboscadas e não as frontais lutas. Esta "Operação" teve ainda outras emboscadas. Contudo, graças a Deus que não tivemos mais baixas. Só a rememorei porque, este militar que nela veio a perder a vida, nem sequer estava "escalado" para nela participar. Ele foi voluntário e por troca com outro companheiro de armas e por tal facto durante muito tempo muito se falou desta morte.
"Descansa em Paz companheiro"
"Que Deus te dê no Céu a Paz que te tiraram na Terra"
F.Afonso
(ex-combatente)