PROENÇA-A-VELHA
O Senhor do Calvário
O ARRAIAL E AS GENTES
Do que foi, nada existe hoje.
O alpendre da Capela foi melhorado. Já não se vêem as telhas nem o varão de ferro que ajudava manter as vigas e onde me pendurei muitas vezes quando aos domingos, juntamente com jovens da mesma idade, rapazes e raparigas, ali nos deslocávamos para passar umas horas pelas tardes de verão.
Hoje está tudo mais bonito e mais moderno.
Os terrenos adjacentes à Capela eram bastante irregulares e a única coisa que se destacava era o Coreto onde se instalava a Filarmónica para abrilhantar o arraial com as suas músicas.
Era na verdade uma verdadeira festa. Todos se conheciam e todos se divertiam à sua maneira.
Havia uma bancada a que se dava o nome de "Ramo" onde se vendiam em especial, bolos e também algumas "rifas" e bebidas.
Aos mais jovens o que mais interessava era o "bailarico". Em contra-partida, os mais idosos agrupavam-se junto à bancada do "Ramo" e ali conversavam e bebiam uns "copitos".
Este local, o Senhor do Calvário, era também um destino muito frequentado pelos mais jovens, rapazes e raparigas, que ali se deslocavam e ali passavam várias horas, ou com as namoradas ou procurando arranjar namorada.
Era um tempo em que havia muita juventude nesta nossa Proença.
Não esquecer que por esta altura, década de cinquenta, haviam em Proença e em pleno funcionamento, três escolas primárias. Uma junto à Praça, outra na Capela de Santo António e uma terceira nas traseiras no primeiro andar, do Edifício da Igreja da Misericórdia.
Proença era na realidade uma Aldeia populosa e com muita vida.
Havia, que eu me recorde, cinco Sapateiros, seis tabernas, quatro barbeiros, quatro mercearias, diversos alfaiates, modistas, dois talhos e diversas outras actividades bem demonstrativas da actividade social que Proença-a-Velha possuía.
Do que acabo de referir, hoje não existe absolutamente NADA.
A pouca população que ali reside tem que se deslocar ou à Idanha-a-Nova ou um Castelo Branco para adquirir as coisas mais simples de que necessita para viver.
É verdadeiramente uma tristeza verificarmos o estado a que chegou uma terra onde há três ou quatro dezenas de anos tanta vida palpitava.
E mesmo para que esta pouca vida que tem exista, a mesma deve-se a duas ou três dezenas de habitantes que, com verdadeiro amor à terra, vão lutando para que a chama que iluminou os seus antepassados não se extinga.
Hoje tudo é diferente.
A Esplanada foi aplanada; há instalações sanitárias condignas e um bar local para servir os populares que ali se deslocam nos dias de festa.
Só falta a população residente.
De salientar em especial dois proencenses: -Francisco José Ribeiro da Silva – Presidente da Junta de Freguesia e João Adolfo Ramos Geraldes, Presidente da Assembleia de Freguesia.
Ao assistirmos a uma quadra festiva naquele recinto, constatamos que a grande maioria das pessoas não são proencenses e que por tal facto não se conhecem.
Todavia é minha convicção que, se as políticas seguidas pelos nossos governantes não for em alteradas, o que dificilmente me leva a acreditar, nem o esforço guerreiro destas gentes evitará o total abandono das terras da maioria do interior deste nosso querido Portugal.
FAfonso