COMO É BOM RECORDAR!.......
(caminhando)
-VELHA OLIVEIRA-
"O teu tronco envelhecido
Lembra-me a minha juventude
Tu és o tronco amigo
Onde me deleitei a miude"
Com o passar dos anos a nossa memória vai lentamente sendo apagada.
Há no entanto certas passagens, em especial da nossa juventude, que se grudam de tal forma em nós, que não há nada, nem mesmo os muitos anos passados, que as elimine da nossa mente.
Vem isto a propósito da da fotografia que encima a pequena história que aqui vou narrar, passada na minha juventude.
Sempre tive uma adoração muito especial por tudo o que sejam aves (ainda hoje essa adoração permanece e, de tal forma, que tenho na minha casa rolas, piriquitos, bicos de lacre e mandarins), e, por tal facto, enquanto jovem e residente na minha pequena mas linda aldeia, tudo fazia para ter na minha posse alguns pásaros.
Aqueles de que eu mais gostava, eram as rolas.
Mas não desprezava a oportunidade de poder deitar a mão a qualquer outro que me aparecesse a jeito.
Não havia pinheiro, sobreira, azinheira, oliveira ou qualquer outra árvore que me escapasse, desde que me parecesse que lá, mesmo que muito alto fosse, estivesse estivesse um procurado ninho.
Escusado será dizer que algumas "quedas" e calças rasgadas fizeram parte dessas aventuras de jovem e irrequieto que eu sempre fui.
Enquanto vivi em Proença, acho que vivi com os meus pais em três locais: O primeiro, durante os meus primeiros meses de vida, foi numa casa situada numa travessa que parte da rua do Espírito Santo e termina nas traseiras da Igreja da Misericórdia; A segunda foi na rua Nova da Devesa e, por pouco tempo, no Largo do Adro.
Foi contudo na Devesa que eu me criei e onde vivi quase a totalidade dos anos em que residi em Proença.
Por isso, quando agora, ao fim de tantos anos passados, lá voltei, não pude deixar de visitar de forma sentida "a casa da Devesa" e também "a casa do Adro".
Mas "a da Devesa" é na verdade aquela que mais ficou gravada na minha memória.
Bem perto da minha casa havia o Chafariz da Devesa e, junto a este, o Campo de Futebol do qual tantas recordações tenho.
Ao fundo do Campo (onde, no meu tempo se realizaram alguns importantes desafios entre Proença e Medelim e entre Proença e São Miguel,), hoje abandonado e transformado em silvado havia, e calculem que ainda lá está!-, uma velha oliveira que, como se pode ver nitidamente pela foto, (eu fui visitar esta velha árvore e fotografei-a), junto dela revivi as imensas vezes que a "visitei" e, aquela "toca" incrustada no seu velho tronco, era o motivo das minhas inúmeras visitas.
Acontecia que dentro daquela "toca" escavada pelo passar dos tempos, todos os anos havia pássaros que lá iam fazer o ninho e eu, "doido" que era por pardais, sempre que me dirigia à horta que os meus pais tinham nos "pinheiros", fazia com que o percurso passasse pela velha oliveira e, lá ia eu meter o braço, na esperança de apanhar algum pássaro. E diga-se que na verdade foram diversos os que lá apanhei.
Até que, certo dia, aproximando-me sorrateiramente, como sempre, evitando fazer o menor ruído possível, como habitualmente fazia, meti a mão na "toca" na esperança de mais uma caçada mas, nunca a retirei tão rapidamente como dessa vez.
Pois aconteceu que ao retirá-la, trouxe agarrada à mão uma cobra que entretanto ali se tinha dirigido certamente com o objectivo de comer os ovos que os "meus" pássaros ali iam pondo.
A cobra quando sentiu a mão do intruso, não teve dúvidas que estava a ter concorrência e resolveu, sem aviso prévio, dar-me uma valente mordedela, de tal forma que só me largou a mão depois de eu muito a sacudir ao mesmo tempo que batia com ela no tronco da velha árvore.
Lembro-me bem que, depois do bicharoco me ter deixado a mão, eu, embora todo arrepiado, mas como ela estava meio atordoada das pancadas que tinha levado contra a oliveira, ainda acabei por lhe "limpar o cebo" com umas pedradas na cabeça.
Maldito bicharoco que interrompeu as minhas "caçadas" de uma forma tão hostil.
A partir daquele dia tive que passar a adoptar uma "táctica" diferente.
Levava um pauzinho comprido numa mão e um pano grosso na outra. Com o pano tapava quase integralmente a saída da "toca" e com o pauzinho ia tocando o fundo. Se lá estivesse algum pardal eu pelo toque certamente me aperceberia, pensava eu.
Mas a verdade é que, talvez porque a cobra tenha deixada o seu odor impregnado no interior da "toca", a partir desse dia nunca mais voltei a apanhar nenhum pássaro naquela "minha reserva de caça".
Ficou todavia na minha memória a lembrança desta pequena história e a saudade que agora "matei" ao visitar esta "velha e amiga árvore"
É pois a ti, velha companheira de tantas tardes e de tantas alegrias que me deste, que eu dedico estas linhas, ao mesmo tempo que relembro com saudade esses tempos que jamais voltarão, mas que foram bons e que para sempre relembrarei com nostalgia e amizade.
E SE O TEMPO NÃO ANDASSE
E SE A IDADE PARASSE
E SE O TEMPO REGRESSASSE
E O MUNDO NÃO SE GUERREASSE
COMO SERIA?
TU OLIVEIRA VELHINHA
QUE TANTA ALEGRIA ME DESTE
CONSERVA-TE MESMO SOZINHA
PORQUE TU TUDO MERECES
FAfonso